10/11/2016

Brasil Indígena (Enem)

                                História do Brasil - 1

                                                        Brasil Indígena

 
 A costa litorânea brasileira era povoada por diversas populações indígenas que se estendiam desde os Potiguar, inimigos dos portugueses, no Maranhão, até os Carijó, considerados os mais gentios autóctones, no Rio Grande do Sul.
 
 O primeiro contato da frota de Cabral com os indígenas se deu com os povos Tupiniquim, os quais , durante menos de um século, firmaram aliança com os recém chegados portugueses, a fim de combaterem a invasão francesa que contava com apoio dos Tamoios. Os Tupiniquim, constituintes de um contingente com mais de 85 mil índios, por volta de 1600, já estavam dizimados e escravizados pelos próprios portugueses.


 
 No quadro acima, denominado O Ultimo Tamoio de Rodolfo Amoedo, vê-se a caracterização romântica feita sobre o indígena, contrariando a realidade de que nenhum jesuíta chorou pela morte dos tamoios, haja vista que esses, ao se aliarem aos franceses, foram abandonados pelos padres da Companhia de Jesus.

 Portanto, o índio será tratado na história pela ótica do colonizador e, quando apresentado, o farão de forma idealizada e conforme o que a Europa consideraria "civilizado", a ponto de se montar uma linha filosófica marcante em torno da imagem do Bom Selvagem.

 O primeiro filósofo a propor tal concepção será Montaigne, em Dos Canibais, cujo livro influenciará todo um capítulo em O Espírito das Leis, de Montesquieu, por meio do qual o autor louva o amor à liberdade e o igualitarismo indígena. Apesar disso, o filósofo que fará do bom selvagem um dos pilares de seu pensamento axiológico é Rousseau. Além desses, haverá os críticos de tal viés, como Shakespeare que, por meio de sua peça A Tempestade, cria o personagem Caliban, o qual é selvagem, rude e cruel.

 Assim, o indígena foi, continuamente, espetacularizado, ora pelo bom, ora pelo mal caminho, mas sempre orbitando no neurótico consciente europeu. Houve, inclusive, a famosa Festa Brasileira em Rouen, onde comerciantes franceses organizaram uma maquete teatral com uma temática voltado ao tropicalismo aborígene brasileiro, configurando uma curioso dramaturgia, a fim de atrair investimentos de Henrique II e Catarina de Médici para consolidar as expedições ilegais no Novo Mundo.

 O desfecho disso tudo foi a segregação histórica de 500 anos sem nem ressalvar em algum momento os indígenas que obtiveram destaque como verdadeiros heróis, distantes do irreal panorama literário: único ambiente possível para a narrativa martirizante indígena, seja com O guarani, Iracema, ou com A confederação dos Tamoios.

 Desse modo, sem esforço, nunca se ouvirá falar de nomes como Felipe Camarão, corajoso potiguar  fundamental na expulsão dos holandeses, ou de figuras recentes como o cacique caiapó Raoni Metuktire, símbolo de combate aos interesses do agronegócio e do capitalismo selvagem na Amazônia.

 Consequentemente, a idealização indígena das épocas do descobrimento é um dos eixos que dificultam a promoção de políticas públicas efetivas aos povos indígenas, sem que isso acarrete a revolta inconteste da sociedade. As pessoas não aceitam a apoderação indígena de elementos culturais que não os seus de tempos passados. É difícil incutir a compreensão de que, como disse o escritor Octávio Paz, as culturas não são fortalezas, mas sim encruzilhadas.

 Em suma, o enem se interessa muita nessas questões relacionados ao etnocentrismo, a partir do qual fica complicado vislumbrar o que o poema Erros de português, de Oswald de Andrade, consegue exprimir muito bem, visto que, como poetizou o autor, quando o português chegou, este vestiu o índio, mas, fosse uma manhã de sol, o índio teria despido o português.

 Por fim, vale ressaltar o choque cultural envolvido na observação da prática antropofágica, que é só mais uma marca tradicional de determinados povos. Não é válido a classificação de incivilidade, pois cenas semelhantes ocorreram na Europa em épocas de crise, alem de que também não seria civilizado a escravização dos negros da terra.

 


 O quadro representado acima é de autoria de Theodore de Bry e exemplifica o evidente conflito cultural, por meio da reação assustada do alemão Hans Staden, no fundo da tela. 

 Logo, para finalizar as visões opostas, é importante ler o trecho da conversa entre o francês Jean de Léry e um velho tupinambá, registrada no livro Viagem à terra do brasil. É um trecho curto que demonstra a obsessão dos portugueses em atravessar oceanos para buscar aquilo que não precisam para sobreviver, mesmo perante a efemeridade da vida e a certeza de que as gerações futuras de filhos e netos não necessitariam de tais posses para viverem e sobreviverem. 

 Espero que esses resumos auxiliem, não só em história, mas também nas aulas de redação.

04/01/2016

Civilizações Mesoamericanas II

Maias

 A civilização maia estendeu-se por toda a península de Iucatã e partes de Honduras, El Salvador, Belize e Guatemala.

 No início, seu chefe político era também religioso. Era assessorado por um conselho.

 Cultivavam, principalmente, milho, batata e cacau. O cultivo era feito nas áreas mais pantanosas, em virtude da disponibilidade de água. Apesar disso, construíam canais de irrigação, drenavam água e faziam terraços. As casas eram, geralmente, de madeira ou adobe com um teto de palha. Raras exceções vinham de casas construídas com pedras de calcário.

 Os maias queimavam o solo, a fim de limpar a terra para a agricultura. Entretanto, tal prática desgastava o solo o que fazia as cidades ficarem em rota de colisão por uma futura insuficiência agrícola. Sementes de cacau eram usadas como moedas de troca. Havia rotas comerciais terrestres, fluviais e marítimas. Comercializavam jade, plumas, tecidos, cerâmicas, mel e cacau. Ademais, existiam indústrias de armas, objetos de trabalho, sal e tecido.

Eram adeptos a dois tipos de calendário. Um deles era o utilizado no cotidiano que dividia os anos em 365 dias e o outro era para fins religiosos com anos de 260 dias.

 Na matemática dá-se importância ao desenvolvimento do zero e dos cálculos que podiam alcançar até centenas de milhões. A medicina fundia ciência com religião através de curas que iam desde ervas medicinais até fórmulas mágicas.



 Chichén Itzá, relevante cidade maia, se localizava em uma região com certa aridez, sendo necessário instalação dos cenotes. Cenotes são poços de água com funções também religiosas. Grandes cidades como Seibal, Nohmul, Calakmul e Tikal cresceram atraindo pessoas das cidades vizinhas, por meio de maiores perspectivas de trabalho, comida e proteção, oferecidos pelas elites emergentes. Elites essas que empregavam essa mão de obra excedente na construção de grandes obras públicas.

 Os maias, assim como outras civilizações mais distantes como a egípcia, não dissociavam ciência de religião, nem mundo natural do espiritual. Os dois estavam intrinsecamente ligados. Assim, cultuavam a natureza e ofereciam sacrifícios, a fim de conectarem-se ao mundo espiritual. Até o reflexo na água era considerado uma representação do mundo espiritual. Isso pode explicar a construção de muitos reservatórios nos centros das cidades maias.



 A elite era a parcela da sociedade que podia estabelecer contato com o mundo inteligível maia. Para tanto, utilizavam de plantas, substâncias e bebidas. A exemplo tem-se o tabaco selvagem, o balche (bebida feita de mel, cascas de árvores e vários tipos de cogumelos como o xibalbaj okox), e até secreções do sapo venenoso Bufo marinus. Os maias ainda diziam que havia 13 níveis para o céu e 9 na direção descendente do além-mundo. Cada nível com sua própria divindade.

 A decadência começou no início do século IX d.C., com as cidades superlotadas, carências de alimentos e interferências estrangeiras. Isso pode ter ocorrido pelo solo já saturado e por conflitos entre as cidades-estados.



 Em 1526, Francisco de Montejo inicia o processo de colonização de Iucatã em um processo que perdurou até 1546. Após 20 anos, os espanhóis acabaram com dois milênios de civilização maia. Hernán Cortés também participara das expedições contra os maias.



 Contudo, como ocorreu com outras civilizações, os maias cristianizados mantiveram a essência de sua filosofia pré-colombiana. A exemplo, tem-se o carnaval nas terras altas de Chamula, onde ocorre o episódio da paixão de Cristo muito mais indianizado que de costume.

Astecas

 Surgem no período Pós-Clássico ( 900-1000 d.C.), com a migração de índios vindos, provavelmente, dos Estados Unidos que se mesclaram com os povos Toltecas.

 Tenochtitlán ( principal cidade Asteca) começou como um pequeno vilarejo que estabeleceu aos poucos relações comerciais com cidades próximas, como Culhuacan  e Azcapotzalco ( cidade do povo Tepaneca). O empecilho residia no fato dos Astecas terem que pagar tributos aos povos tepanecas, mas em contrapartida fortaleciam um sistema de aliança, através de casamentos, por guerras que se sucederiam. Entretanto, a lealdade asteca perante ataques contra a principal cidade-estado tepaneca pela cidade de Texcoco, fez com que os tepanecas ascendessem os astecas como parceiros iguais.

 Com a morte do imperador Tezozomoc (tepaneca), assumiu seu filho Maxtla. Movido por sua insegurança e despreparo, Maxtla não conseguiu impedir diversos conflitos e acirramentos entre os impérios astecas e tepanecas. Assim, os astecas declaram guerra e juntam suas forças com Nezahualcoyotl. Nezahualcoyoutl conseguiu apoio de duas cidades-estados, Tlácopan e Tacuba que ajudarão a dominar a capital tepaneca. Os astecas também empreenderam guerras com os povos mixtecas que bloqueavam o caminho até as ricas terras do vale Oaxaca.

 O imperador, assim como no Império maia era assessorado por um Conselho.



 Havia certa mobilidade social na sociedade asteca. A nobreza, que compunha 10% da população, conquistava seu título mais por próprio mérito do que por hereditariedade. Ninguém nascia escravo. A escravidão só ocorria como pagamento de dívidas e prisioneiros de guerra. Era até possível que um escravo se casasse com a mulher de seu dono, caso este falecesse. A escravidão totalmente desumanizada como pode-se ver na América Portuguesa foi algo novo que diferirá das escravidões gregas, romanas, astecas, africanas etc.

 Os filhos dos nobres estudavam em escolas exclusivas, onde aprendiam sobre os deuses, a vida cerimonial e as artes da guerra. As crianças de famílias mais humildes estudavam em escolas comuns, aprendendo sobre danças, cânticos para os rituais, construções e luta.

 A classe de mercadores denominava-se pochteca e estava responsável por externalizar o comércio imperial e ainda servir como espiões. Trocavam ouro, obsidiana e cristal por itens exóticos como peles de jaguar, conchas, plumas e cacau.

 A poligamia não era proibida, mas o homem deveria ser capaz de sustentar todas as suas mulheres. O adultério era motivo de apedrejamento e estrangulamento, embora o divórcio fosse permitido.

 Não havia cavalos ou gado até a chegada dos espanhóis, portanto toda a atividade agrícola era manual. Cultivavam milho, mandioca, cacau, algodão, fumo e outras culturas. Possuíam um sistema de irrigação avançado com aquedutos e canais por onde transitavam barcos. A dieta era composta, basicamente, tomates, pimentas, coelhos, cervos e perus. Bebidas do chocolate eram usufruídas pelas classes mais altas.

 Tinham os 2 calendários como os maias e faziam diversos sacrifícios, a fim de acalmar os deuses. Inclusive, as invasões astecas tinham como objetivos a cobrança de impostos e captura de prisioneiros para sacrifícios.


 Assim como nas outras civilizações, os astecas mantiveram pedaços de sua cultura vivos. Um exemplo, é o Dia de todos os santos, no qual percebe-se a íntima relação dos mexicanos com a morte por assim dizer. Além disso, há o culto da Virgem Maria de Guadalupe, em Tepeyac. Esta área era originalmente sagrada à deusa asteca Tonantzin. Entretanto, as preces são endereçadas a Nossa Senhora. Alguns acreditam que a deusa tenha se transformado na Virgem Santíssima.

03/01/2016

Civilizações Mesoamericanas I

Tainos e Caraíbas

 Tainos e Caraíbas são algumas das civilizações mais antigas conhecidas na Mesoamérica. Os tainos foram o povo que, rapidamente, se aproximaram dos "descobridores" espanhóis, com intuito de se protegerem das investidas caraíbas, povo muito conhecido pelas práticas de canibalismo. Prática esta que abominava os europeus, os quais julgavam ser traços da mais pura incivilidade. Entretanto, por mais abominável que seja, muitas desses costumes, meramente ritualísticos, não se comparavam com a ganância espanhola. A exemplo, tem-se a conquista da cidade de Cuzco (inca) que teve seus patrimônios destruídos para a retirada dos metais preciosos, e seus habitantes torturados e queimados vivos. Sem contar os inúmeros casos de estupro, inclusive por parte do famoso conquistador Francisco Pizarro que abusou de uma princesa inca adolescente, com a qual teve um filho ilegítimo... Logo, pode-se observar que o olhar europeu sobre o significado de civilidade estava severamente deturpado.

  Além disso, a sociedade caraíba apresentava relativa igualdade social entre seus indivíduos. As mulheres eram reverenciadas e possuíam certa importância político-social. Ambos povos viviam nas regiões das Antilhas e Bahamas.

Olmecas

 Localizada na costa do Golfo do México, a  civilização Olmeca se desenvolveu em uma região tropical úmida rodeada por diversos cursos fluviais que impulsionaram as condições para o desenvolvimento agrícola. 

 É considerada precursora das muitas culturas que aparecerão naquele local como os maias, toltecas e até astecas.

 Praticavam o comércio, tendo em vista que embora possuíssem muitos animais, argila e cerâmica, não abundavam obsidiana, magnetita, jade e serpentina. Importantes para as obras de arte.

 Como na maioria das sociedades que se seguiriam (algumas até mais que outras), os olmecas tinham um meio social hierarquizado, com um status que passava por hereditariedade. Governantes eram considerados importantes figuras religiosas e usavam dessa maior aproximação com as divindades para legitimarem seu poder.

 O centro mais importante Olmeca era a cidade-estado de San Lorenzo, que por algum motivo foi evacuada. Depois disso, La Venta que era mais um centro de fins religiosos passou a crescer cada vez mais ( entre 900 e 700 a.C.).


 As obras artísticas de San Lorenzo apresentavam muito antropozoomorfismo que também vai ser comum nas culturas posteriores. Utilizavam para isso, principalmente, a figura do jaguar. 


                               
Em aproximadamente 400 a.C., a região Olmeca teve sua população decrescida rapidamente. Os possíveis motivos são as mudanças no curso de rios importantes ou o assoreamento dos mesmos.



Zapotecas
 Localizada  no Vale do Oaxaca, sul do México. 

 Apresentavam um círculo social mais marcado pela hierarquização, com reis hereditários e status evidente. Acreditavam que seus líderes tinham ancestrais sobrenaturais. Assim, estes utilizavam do mundo espiritual para justificar seu status no mundo natural.



 San José Mogote era um grande centro ritualístico zapoteca que, em aproximadamente 500 a.C., chegou ao ponto de saturação habitacional. Isso resultou na formação de novas vilas em outro lugar em outro lugar. Este lugar foi depois chamado de Monte Albán, em virtude da montanha que ficava próxima.



 As mulheres, que gozavam de certa relevância social, casavam-se com membros de outras cidades próximas, com intuito de criar um sistema de alianças. Os zapotecas podem ter tido uma política mais imperialista do que se imagina. Tem-se conhecimento do atrito com os mixtecas que disputavam pelas principais rotas comerciais. Entretanto, esses povos depois se uniram contra o Império Asteca, que avançava. No fim, acabarão se rendendo, com a obrigação de pagar tributos.

 Os trabalhadores pagavam tributos para o rei em forma de milho, mel ou feijão. Os zapotecas desenvolveram um sistema de escrita que, posteriormente, será usado ,como base, pelos maias. Eram ótimos tecelões e oleiros.



 Em aproximadamente 1000 d.C. o crescimento de Albán estagna. As cidades-estado em volta apresentavam um crescimento até maior. Com a chegada dos espanhóis, muitos zapotecas se isolaram, enquanto outros resolveram apoiar os estrangeiros esperando se beneficiar.

 O que interessa, e que vai acontecer com outras culturas mesoamericanas e sul-americanas depois, é a resistência dos costumes religiosos e da própria religião, mesmo com a imposição feita pelos jesuítas com o cristianismo. É dessa forma que ocorre o sincretismo religioso que poderá ser melhor observado mais a frente.

Teotihuacan

 Governada por uma seleta elite, Teotihuacan surgiu no Vale do México e se consagrou como uma das maiores metrópoles até então.

 A região era dominada por uma cidade-estado chamada Cuicuilco, enquanto Teotihuacan ainda era vila. Entretanto, uma erupção vulcânica desestruturou Cuicuilco e fez com que sua população se relocasse. Após esse acontecimento, Teotihuacan cresceu rapidamente, chegando a ocupar 90% do Vale do México.



 Não se sabe a origem étnica ao certo. Sabe-se que falavam o nahuatl (língua asteca).

 A cidade era organizada em conjuntos de apartamentos para organizar as habitações. Mesmo sem indícios de divisão em classes baixas e altas, havia conjuntos habitacionais mais bem elaborados e ornamentados.



 Cultivavam milho, feijão, tomate e pimenta. Comiam cervos, coelhos, patos e algumas raças de cachorros. Controlavam fontes de obsidiana e tinham indústria de lâminas.

 No seu apogeu, Teotihuacan chegou a acabar com toda uma dinastia maia da cidade de Tikal.

 A decadência ocorreu entre 650 e 700 a.C., com uma provável desestruturação do poder político interno, em razão de invasões ou revoltas da própria população.
 Mesmo após a decadência de Teotihuacan, ascendeu-se a cidade-estado de Talud. Não se sabe se foi pela evacuação de Teotihuacan ou por mais outros povos. Talud tinha um entrelaçamento grande com a cultura asteca que até a utilizava como centro espiritual.