28/12/2015

Síria e Crise Migratória

 Antes de tudo, é necessária uma dicotomização sobre as duas linhas de pensamento que cerceiam o Islamismo. A primeira é a xiita e a segunda, sunita. A diferença reside, basicamente, no entendimento sobre quem sucederia o profeta Maomé após sua morte. Para os xiitas, a liderança deveria ser de pessoas com mesmo sangue do profeta. Para os sunitas essa relação de parentesco não seria necessária.

O desentendimento se inicia em 632 d.C. com a morte do profeta e se intensifica ao longo da história.

 Deve-se levar em conta que, com a dissolução do Império Otomano, após a Primeira Guerra Mundial, os franceses passaram a dominar a região síria que, nesse momento, ocupava um território um pouco maior que o atual. A França viu necessidade de fragmentar a região, denominada de Grande Síria, em áreas administradas pelas minorias que compunham aquela população; isto é, os alauítas (minoria xiita), drusos e cristãos. A intenção era deixar de fora a maioria sunita, com intuito de tirar o risco de uma possível grande revolta.




 Entretanto, tal estratégia não impediu o acontecimento de diversas revoltas que resultaram na independência síria em 1946. A partir daí, o governo passou por vários presidentes até o golpe de estado de 1962 dado por Hafez Al-Assad, que permaneceu 30 anos no poder até sua morte no ano 2000. Hafez organizou um aparato de segurança anti-golpe pautado no fortalecimento do exército e na criação de agências de inteligência que praticariam a fiscalização umas das outras. Além disso, havia/há os serviços secretos que ficariam acompanhando os passos da oposição, a fim de não haver imprevistos. 

 Com a morte de Hafez assume seu filho, Bashar Al-Assad, que traçará os mesmos rumos de seu pai, por meio de medidas autoritárias de censura à imprensa e repressão violenta a quem se mostre obstáculo. Bashar consolidou-se no poder através de um referendo popular e, até mesmo, por mudanças na Constituição do país. E mesmo que tudo isso tenha sido fruto de processos fraudulentos, não havia tal necessidade. Assad assume com o perfil de um reformista, tendo em vista seu caráter jovial que fomenta as esperanças do povo em um possível governo que iria contra às atrocidades do governo passado. Entretanto, os projetos não saíram do papel e, embora tenha-se promovido um maior acesso à internet e alguma preocupação com o isolamento político, nada mudou.



 Inclusive, é até engraçado ver essa força de movimentação que possui a internet, já que quando está livre para uso pode promover grandes passeatas, greves etc. Mas quando não está, aí sim tira qualquer pessoa do estado de inércia. Um exemplo foram as recentes revoltas no Egito. O governo tinha limitado o uso da internet no país... Mubarak foi deposto.

 Voltando ao caso da Síria, o que fez o país ganhar olhares internacionais foram os protestos oriundos da cidade de Deraa, onde um grupo de adolescentes pintavam slogans no muro de uma escola. Slogans esses condizentes com o espírito revolucionário que a Primavera Árabe despertara nas pessoas que se identificaram com as injustiças sofridas por seus governos.



 Logo depois, como um dominó, iria-se montando o jogo de alianças pró e contra o governo, fazendo com que, em julho de 2012, a Cruz Vermelha classificasse o conflito como guerra civil. O que se deu foi que Bashar Al-Assad optou por abrir fogo contra as manifestações que ocorriam. Assim, no final de 2011, civis e soldados desertores formaram o Exército Livre da Síria para combater as investidas do governo. Além disso, há a relevante e recente atuação do Estado Islâmico na região, que só aparece para agravar os problemas, já que possui uma ideologia que não se identifica nem com a dos sunitas das milícias contra o governo e muito menos com as pró Assad, geralmente xiitas.

                                     
                                 avião russo despejando bombas em local desconhecido

 É sabido que o E.I. se autodenomina sunita mas, segundo o professor Reginaldo Nasser da PUC-SP, o grupo terrorista aplica as leis da Sharia e do Alcorão conforme as interpretações de seu líder Abu Bakr Al-Baghdadi e matam tanto sunitas, quanto xiitas.

 Voltando às alianças, deve-se ressaltar o grupo libanês Hezbollah, que tem grande influência no Líbano e, aliás, recebeu apoio da Síria para se consolidar lá. Sua pretensão é criar um Estado Islâmico Libanês. E são xiitas!

 O governo sírio também conta com a ajuda de países como Irã e Iraque, que se posicionam como fornecedores de armas, mais com intuito de fazer frente à oposição saudita. Intensifica-se um acirramento do xiismo versus sunismo.

 Deve-se considerar ainda a indispensável ajuda da Rússia, que já possui um histórico com a Síria, visto que Hafez já simpatizava com a União Soviética nos tempos de Guerra Fria. Sem contar que, assim, a Rússia pode-se posicionar contra os EUA que apoiam o Exército Livre da Síria, a Irmandade Muçulmana Egípcia (outro opositor do governo sírio e que atuara ao lado de Mohamed Morsi em sua rápida passagem pela liderança do governo egípcio) e tantas outras milícias existentes. 



 E fica mais ou menos assim o cenário cotidiano sírio, que terá de lidar com uma guerra civil cada vez mais fomentada por ambos os lados e com a forte atuação do E.I. que oscilará entre expansões e recuadas de seus domínios devido às investidas russas.

 Perante esse caos social, a população desempregada síria já passou da metade. Além disso, muitos países europeus, como a Alemanha, promoveram sanções que diminuíram a exportação do petróleo sírio, já debilitada em virtude de muitas regiões estarem sobre domínio rebelde. Para a sorte do governo, a agricultura aumentou sua participação no PIB, em razão de um clima que favoreceu seu desenvolvimento. Em contraste, houve a destruição da infraestrutura de muitas cidades, o que forçou empresas a se translocarem para os países próximos.



 Todos esses fatores só contribuem para que recebamos todos os dias fotos e mais fotos de um expressionismo agonizante que nem Munch conseguiria retratar. Me abstive de alguns pontos enquanto escrevia o texto, mas eles poderão aparecer em algum comentário. Desde já, agradeço.





 O link abaixo te guia sobre instruções de como se pode ajudar na estadia de um imigrante sírio :

27/12/2015

Hebreus

 A história Hebraica tem espaço relevante nos livros de história por se tratar de um povo, relativamente, pacífico que atravessou milênios e se manteve íntegro, dando origem a duas das maiores religiões monoteístas do planeta. O cristianismo, advinda de Jesus, e o Judaísmo que ainda aguarda por seu Messias.

 Sabe-se que o povo hebreu vivia em uma cidade Suméria ( primeiro povo a habitar a mesopotâmia) chamada Ur. Nesta cidade-estado, Abraão recebe o chamado de Deus que o convida a converter-se ao monoteísmo e levar os hebreus à Terra Prometida denominada Canaã, que hoje seria grande parte da Palestina (2000 a.C.).



 A periodização é feita em 3 partes: Patriarcado, juizado e reinado.

 Este primeiro momento se trata do patriarcado, pois os judeus (ou hebreus) ainda eram nômades e se ocupavam da criação de caprinos.

 Chegando em Canaã, passam pelo processo de sedentarização, tendo em vista as terras que eram sutilmente férteis. A partir daí, começam a praticar a agricultura e a domesticação de animais com maior intensidade. Inicia-se também um processo de hierarquização social, tanto pela distribuição diferenciada de serviços, quanto pelo surgimento da propriedade privada, que é comum em toda sociedade que começa a ficar complexa.

 Entretanto, uma seca assombrosa assola a região forçando os judeus a tomarem novos rumos. Partem para o Império Egípcio que estava dominado pelos Hicsos (um povo de origem asiática). Os hebreus são bem recebidos e ,até mesmo, livres para ocupar cargos administrativos e outras funções.

 A investida egípcia se origina na cidade de Tebas com o futuro faraó Amósis que desbancará os Hicsos e escravizará o povo hebreu por um período de 400 anos. Já o contra-ataque judeu será chefiado por Moisés que encaminhará tal povo novamente á Terra Prometida.



A região da palestina sempre foi fortemente disputada, não só por suas terras, já que o clima semi-árido não contribui para a produção de muitas culturas, mas sim por ser área que interliga ocidente e oriente pelo mar mediterrâneo. Soma-se a isto o fato de existirem poucas barreiras naturais que impeçam a perambulação de povos pela região.

 Sendo assim, depois de 400 anos de história, Canaã já estava sendo habitada por diversos povos, incluindo os famosos inimigos Filisteus. Nesse caso, fez-se necessário compor um contingente militar que pudesse enfrentar tais povos. Assim, se inicia o Juizado.

 Josué, famoso juiz, dividirá as terras conquistadas em 12 tribos. As guerras contra os Cananeus e Filisteus estavam cada vez mais exaustivas, levando á dissolução do corpo de juízes e instauração da monarquia que concentraria o poder nas mãos de um só líder, com objetivo de potencializar os ataques. Gedeão, Sansão e Samuel são exemplos de juízes.



 O primeiro rei será Saul, seguido por Davi que derrotará os filisteus. Com a morte de Davi, assumirá o rei Salomão que levará a cultura hebraica a seu apogeu. Intensificará o comércio com outros povos, aproveitando da base criada por seu pai Davi e será protagonista de grandes obras públicas como o Templo de Salomão (Templo de Jerusalém).



 Com a morte de Salomão, os conflitos internos aumentam, levando em consideração que a região estava sendo cobiçada pelos egípcios e babilônios aos cantos. Além disso, as esplendorosas obras que caracterizaram o reinado de Salomão foram custeadas pelos pesados impostos que a população era obrigada a pagar.

 Assim, quando assume Roboão, filho de Salomão, este se recusa a fazer a urgente reforma tributária que a população necessitava, levando ao que se chama Cisma Hebraico, que é a separação das doze tribos em duas partes. A parte norte composta por 10 tribos chamada de Israel e a do sul chamada de Judá ( Aproximadamente 924 a.C.).

 O primeiro a se prejudicar será o reino de Israel que fora dominado pelo rei Sargão II do Império Assírio, que estava imperando na Mesopotâmia. (722 a.C). Logo depois será o reino de Judá que será invadido pelo rei neobabilônico Nabucodonosor e assim ocorrerá o famoso episódio do Cativeiro da Babilônia( PRIMEIRA DIÁSPORA ), visto que os hebreus foram levados cativos para a Babilônia (586 a.C.).

 Isso perdurará até a dominação Persa sobre a mesopotâmia com o rei Ciro I, que livrará os judeus de suas algemas e os deixará livres para retornarem á sua almejada Canaã, a fim de reconstruírem o Templo de Salomão, destruído pelos Babilônicos (536 a.C.).

OBS: Não leve em consideração os Persas do filme "300" de Zack Snyder.



 Em sequencia, haverá diversas dominações. Alexandre Magno com seu império que unira ocidente com oriente dominará a Palestina em 322 a.C. Depois dele, será a vez do Egito com a dinastia Ptolomeu que não passa de um desdobramento do império macedônico, já que após a morte de Alexandre seu império foi dividido entre seus 3 grandes generais. Ptolomeu ficou com a parte do Egito.



 Depois dos Ptolomeu, o povo Hebreu passou para as mãos do vasto Império Romano que não pegou mole. Diante de tamanha tortura, o povo judeu resolveu fazer uma investida contra as legiões romanas, sob ordens do imperador Tito, que derrotarão os judeus e destruirão o Tempo de Salomão novamente (70 d.C.). Em seguida, os romanos promoveram a Segunda Diáspora judaica pelo mundo, dispersando os judeus. O ultimo episódio de resistência pífia se dá no episódio de Massada, que vale a pena dar uma olhada.



 Depois de muito tempo, se iniciará o movimento Sionista em defesa de um Estado Judaico. Tal movimento ganhou gás, em virtude do forte anti-semitismo ao longo da história e do futuro holocausto. Ademais, fala-se em retorno á pátria tomada.

 Isso resulta em desdobramentos que levam a ONU a decretar a criação do Estado de Israel (1948) na região da Palestina que já estava sendo habitada por árabes a muito tempo... Olha no que se desenrolou...




 Considerações finais:

-A história dos hebreus está registrada nos 5 primeiros livros da Bíblia, o chamado Pentateuco ou Torá.
-A atual guerra entre árabes e judeus resulta destes acontecimentos.
-Pode-se perceber como a religião influencia na resistência ao longo da história. Fato muito apontado nas convocações das Cruzadas, mas que podemos observar com os Hebreus.
-O que sobrou do Templo de Salomão foi o atual Muro das Lamentações
-Há diversas contradições sobre o assunto, devido aos poucos relatos históricos.
-Não tem muito o que se falar sobre como se encaixar em redações tal tema. Dependerá de qual assunto a dissertação estará tratando. Pode-se usar para falar de questões religiosas e até mesmo sobre os conflitos árabes na Palestina.

Imploro a vocês que leram até aqui alguma objeção nos comentários, que vai ser mais que apreciado por mim, tomando-se de imensa importância. Muito Obrigado!



26/12/2015

Sejam Bem-Vindos!

 Primeiramente quero esclarecer que o blog terá somente fins recreativos com postagens sobre assuntos de História/Geografia e atualidades, além de outras matérias que, eventualmente, sejam requisitadas. Ademais, acho crucial a participação dos visitantes que apresentarem qualquer tipo de indagação ou comentário sobre determinada pauta, independente de qual seja. Estou ávido a qualquer tipo de sugestão desde já...