O desentendimento se inicia em 632 d.C. com a morte do profeta e se intensifica ao longo da história.
Deve-se levar em conta que, com a dissolução do Império Otomano, após a Primeira Guerra Mundial, os franceses passaram a dominar a região síria que, nesse momento, ocupava um território um pouco maior que o atual. A França viu necessidade de fragmentar a região, denominada de Grande Síria, em áreas administradas pelas minorias que compunham aquela população; isto é, os alauítas (minoria xiita), drusos e cristãos. A intenção era deixar de fora a maioria sunita, com intuito de tirar o risco de uma possível grande revolta.
Entretanto, tal estratégia não impediu o acontecimento de diversas revoltas que resultaram na independência síria em 1946. A partir daí, o governo passou por vários presidentes até o golpe de estado de 1962 dado por Hafez Al-Assad, que permaneceu 30 anos no poder até sua morte no ano 2000. Hafez organizou um aparato de segurança anti-golpe pautado no fortalecimento do exército e na criação de agências de inteligência que praticariam a fiscalização umas das outras. Além disso, havia/há os serviços secretos que ficariam acompanhando os passos da oposição, a fim de não haver imprevistos.
Com a morte de Hafez assume seu filho, Bashar Al-Assad, que traçará os mesmos rumos de seu pai, por meio de medidas autoritárias de censura à imprensa e repressão violenta a quem se mostre obstáculo. Bashar consolidou-se no poder através de um referendo popular e, até mesmo, por mudanças na Constituição do país. E mesmo que tudo isso tenha sido fruto de processos fraudulentos, não havia tal necessidade. Assad assume com o perfil de um reformista, tendo em vista seu caráter jovial que fomenta as esperanças do povo em um possível governo que iria contra às atrocidades do governo passado. Entretanto, os projetos não saíram do papel e, embora tenha-se promovido um maior acesso à internet e alguma preocupação com o isolamento político, nada mudou.
Inclusive, é até engraçado ver essa força de movimentação que possui a internet, já que quando está livre para uso pode promover grandes passeatas, greves etc. Mas quando não está, aí sim tira qualquer pessoa do estado de inércia. Um exemplo foram as recentes revoltas no Egito. O governo tinha limitado o uso da internet no país... Mubarak foi deposto.
Voltando ao caso da Síria, o que fez o país ganhar olhares internacionais foram os protestos oriundos da cidade de Deraa, onde um grupo de adolescentes pintavam slogans no muro de uma escola. Slogans esses condizentes com o espírito revolucionário que a Primavera Árabe despertara nas pessoas que se identificaram com as injustiças sofridas por seus governos.
Logo depois, como um dominó, iria-se montando o jogo de alianças pró e contra o governo, fazendo com que, em julho de 2012, a Cruz Vermelha classificasse o conflito como guerra civil. O que se deu foi que Bashar Al-Assad optou por abrir fogo contra as manifestações que ocorriam. Assim, no final de 2011, civis e soldados desertores formaram o Exército Livre da Síria para combater as investidas do governo. Além disso, há a relevante e recente atuação do Estado Islâmico na região, que só aparece para agravar os problemas, já que possui uma ideologia que não se identifica nem com a dos sunitas das milícias contra o governo e muito menos com as pró Assad, geralmente xiitas.
avião russo despejando bombas em local desconhecido
É sabido que o E.I. se autodenomina sunita mas, segundo o professor Reginaldo Nasser da PUC-SP, o grupo terrorista aplica as leis da Sharia e do Alcorão conforme as interpretações de seu líder Abu Bakr Al-Baghdadi e matam tanto sunitas, quanto xiitas.
Voltando às alianças, deve-se ressaltar o grupo libanês Hezbollah, que tem grande influência no Líbano e, aliás, recebeu apoio da Síria para se consolidar lá. Sua pretensão é criar um Estado Islâmico Libanês. E são xiitas!
O governo sírio também conta com a ajuda de países como Irã e Iraque, que se posicionam como fornecedores de armas, mais com intuito de fazer frente à oposição saudita. Intensifica-se um acirramento do xiismo versus sunismo.
O governo sírio também conta com a ajuda de países como Irã e Iraque, que se posicionam como fornecedores de armas, mais com intuito de fazer frente à oposição saudita. Intensifica-se um acirramento do xiismo versus sunismo.
Deve-se considerar ainda a indispensável ajuda da Rússia, que já possui um histórico com a Síria, visto que Hafez já simpatizava com a União Soviética nos tempos de Guerra Fria. Sem contar que, assim, a Rússia pode-se posicionar contra os EUA que apoiam o Exército Livre da Síria, a Irmandade Muçulmana Egípcia (outro opositor do governo sírio e que atuara ao lado de Mohamed Morsi em sua rápida passagem pela liderança do governo egípcio) e tantas outras milícias existentes.
E fica mais ou menos assim o cenário cotidiano sírio, que terá de lidar com uma guerra civil cada vez mais fomentada por ambos os lados e com a forte atuação do E.I. que oscilará entre expansões e recuadas de seus domínios devido às investidas russas.
Perante esse caos social, a população desempregada síria já passou da metade. Além disso, muitos países europeus, como a Alemanha, promoveram sanções que diminuíram a exportação do petróleo sírio, já debilitada em virtude de muitas regiões estarem sobre domínio rebelde. Para a sorte do governo, a agricultura aumentou sua participação no PIB, em razão de um clima que favoreceu seu desenvolvimento. Em contraste, houve a destruição da infraestrutura de muitas cidades, o que forçou empresas a se translocarem para os países próximos.
Todos esses fatores só contribuem para que recebamos todos os dias fotos e mais fotos de um expressionismo agonizante que nem Munch conseguiria retratar. Me abstive de alguns pontos enquanto escrevia o texto, mas eles poderão aparecer em algum comentário. Desde já, agradeço.
O link abaixo te guia sobre instruções de como se pode ajudar na estadia de um imigrante sírio :















